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Não tenham medo de quem grita e ameaça em nome de Jair

31 de outubro, 2018

por Debora Diniz

Publicado originalmente na Revista Marie Claire

Não tenham medo de quem grita e ameaça em nome de Jair. Eles são bravateiros, gostam de se imaginar mais machos do que podem ser, por isso precisam de armas e hormônios nos músculos. Eles até podem ter armas e nos ameaçarem com um tiro de testa, como fazem há meses contra mim, mas no fundo são tão covardes que se escondem no anonimato. A novidade é que, agora, descobriram outros covardes para se juntar e formar um bando. Deixem-nos ocupar o poder, é um lugar desconfortável e trabalhoso. A nós, caberá outro lugar: o da liberdade da contestação.

Não teremos que cumprir metas, como fazer o Brasil crescer, diminuir a inflação, acabar com a bandidagem ou garantir que a reforma da previdência manterá os privilégios de alguns. Só teremos que ficar atentas a cada impropério que dirão, a cada asneira que farão. A tarefa será fácil e até divertida, acreditem. É verdade que anunciam mais que bravatas, já falaram em tanque e inferno para os que discordarem dos ditames da autoridade, mas levemos as bravatas em consideração por partes de realidade. O que temos no momento é que tomaram o poder de forma legítima. Esperemos que vistam a faixa para ver como os generais e os pastores se entendem no poder.

Enquanto isso, já iniciamos a vigilância. Gosto do nome resistência, mas adoro ainda mais contestação. Iremos provocar cada tentativa de fazer política com fofoca – e somos não só a metade da população, como entre nós estão os artistas, os intelectuais, os professores, os trabalhadores e os estudantes. Para responder às nossas provocações, os músculos serão de pouca valia, o jogo argumentativo não é em uma academia de Jiu-Jitsu, mas a política do mundo real e não da fantasia de WhatsApp. Quando gritarem que as universidades são comunistas e ameaçarem gravar professores em doutrinação ideológica de esquerda, além de rirmos muito, iremos falar ainda mais de gênero, de sexualidade, de poder ou de revolução. Comendo bolo de cenoura, é verdade.

Eles tomaram o poder e se regozijam da conquista. Sequer se comportam como bons soldados que respeitam os perdedores – fazem broma, porque desconhecem a tranquilidade da alegria. Como ressentidos que são, se movem pela ira e tem pressa. E, por isso, rapidamente sentirão a desilusão do capitão no comando: a amargura de antes não será aquietada, pois eles são os perdedores da história. Suas vidas serão ainda mais tristes, pois nem fantasiar o kit gay pelo WhatsApp poderão mais.

É assim que peço: não sintam medo. O tempo da tristeza já passou, conquistamos algo que foi oferecido por eles a todas nós – nossa união. A imagem de nossas mãos circulando o mundo é a alegoria do que sentimos nesse momento. Nossos dedos alcançam onde antes não imaginávamos, e nossas diferenças são agora uma fortaleza para a união. Vamos juntas iniciar o feminismo da resistência, sempre alegre e contestador.

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