acf
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u180249597/domains/anis.org.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6121Falsa ideologia, renda e trabalho, de Hélio Duque.
Publicado originalmente por Bem Paraná, em 31 de maio de 2016.
Em 1963, o ministro do Planejamento, Celso Furtado, no governo Goulart, ao formular o Plano Trienal, fixando disciplina na política econômica e forte ajuste fiscal, foi combatido e boicotado por setores do próprio governo. O ministro San Thiago Dantas, ante a radicalização com o programa de estabilização, conceituou que no Brasil existiam duas esquerdas: a negativa e a positiva. A primeira herdeira, em tempo de guerra fria, dos fundamentos revolucionários da luta de classes. A segunda alicerçada nos princípios sociais democratas e reformistas buscava saída democrática para a crise que mergulhava a administração pública. O epílogo daquele governo é conhecido.
Hoje, com o advento da globalização, com tecnologias avançadas de comunicação, aliada ao fato histórico da queda do muro de Berlim, o coletivismo burocrático virou pó. Com isso o conceito tradicional de esquerda e direita foi substancialmente alterado. Existe o que se chamaria de uma direita liberal e democrática do lado de uma direita radical, racista, antidemocrática e intolerante. Igualmente no que seria o campo da esquerda não é diferente. Nela, principalmente na Europa, predomina o reformismo democrático no Estado de bem estar social. E amplos setores que acreditam no caminho do enfrentamento, ao chamado Estado burguês e explorador, dividindo a sociedade em polos antagônicos.
Na última década os brasileiros conviveram com essa realidade. Na retórica demagógica, apenas. A realidade era outra. O paternalismo assistencialista, com claros objetivos eleitorais, garantiu por bom tempo relativo avanço na elevação dos salários e programas sociais. País de realidade social obscena, onde a desigualdade chega a ser desumana, o governo, infelizmente, foi incapaz de mudar a criminosa disparidade entre a renda do capital e a do trabalho. Ignorou que sem crescimento econômico não existe inclusão social duradoura. A diminuição da desigualdade ocorrida por algum tempo, refletindo a estabilidade econômica, agora está sendo revertida pelo desemprego. Os trabalhadores com família para sustentar se defrontam com a inadimplência batendo à porta de modo angustiante, comprovando que não se cria artificialmente um Estado de bem estar social sem bases sólidas e sustentação no crescimento econômico.
O professor Marcelo Medeiros, da Universidade de Brasília e os pesquisadores Pedro Ferreira e Fábio de Castro, do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), órgão do Ministério de Planejamento, constatam que não houve queda na desigualdade da renda no Brasil. Exemplificam: os 5% mais ricos, em 2006, detinham 40% da renda total do País. Em 2012 acumulavam 44% da renda. E nesse 2016, está por ser aferido. Os encargos e juros da dívida pública paga, em um ano, o equivalente a 15 anos do “Bolsa Família”.
Na outra ponta de apropriação da renda, a “Bolsa Empresário” foi ativa integrante da agenda daqueles governos. E não ficou adstrita ao BNDES, mas se estendeu a subsídios, desonerações e regimes diferenciados para setores privilegiados. O governo transitório de Michel Temer é herdeiro dessa “Bolsa Empresário”. Em 2016, custará R$ 270 bilhões. Precisa ser revista pelo Ministério da Fazenda pelo impacto que tem nas finanças do governo federal. Já que a Previdência está subordinada a Henrique Meireles, observe a constatação do economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica no governo Lula: “A agricultura não paga Previdência e impostos porque a maioria dos produtores, até os que faturam bilhões, acaba sendo enquadrado como pessoa física e não jurídica.”
Quando a esquerda negativa do lulopetismo, de maneira juvenil e estudantil, acusa que as elites estão promovendo ação golpista para mudar o governo, nada mais falso. Foram essas elites as grandes beneficiadas naqueles governos. As vítimas, quando as cortinas da fantasia se fecharam, foram os trabalhadores e os pobres. A recessão responde hoje por 11,5 milhões de desempregados, 60 milhões de inadimplentes acumulando R$ 256 bilhões de dívidas em atraso, representando 41% da população com mais de 18 anos.
A fraude populista, com pseuda roupagem ideológica, construiu a realidade que jogou a economia brasileira na maior crise da era republicana. E para sair dela não existe caminho fácil. Exige remédios extremos para curar a enfermidade. O novo governo, se tiver coragem, deve se mirar no exemplo de Winston Churchill, quando Londres era destruída pela aviação nazista: “Resistiremos com sangue, suor, trabalho e lágrimas.”