por Alexandre Aragão
Publicado originalmente no BuzzFeed
Seu contrato de trabalho é temporário, vai vencer em fevereiro, e não pode ser renovado. Ela ainda não sabe como vai sustentar os filhos, de 6 e 9 anos, sem os R$ 1.250 mensais que recebe atualmente.
“Eu não sou tola de achar que uma empresa vai contratar uma grávida — não, não vai contratar”, diz Rebeca, em entrevista ao BuzzFeed News.
Há 10 dias a estudante descobriu a nova gestação, atualmente com seis semanas. O pai é o mesmo de seus outros dois filhos — ele paga a pensão, mas não ajuda a criá-los no dia a dia, segundo a mãe conta. Ela engravidou num encontro casual, quando estava trocando de método contraceptivo.
Em março, o PSOL pediu que o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizasse grávidas com até 12 semanas de gestação a abortar. O caso está parado desde então. Na quarta-feira (22), o pedido de Rebeca foi anexado ao original.
Agora, Rebeca conta com o apoio do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis) e do grupo feminista Think Olga, que é responsável pela campanha #EuVouContar, que incentiva mulheres a relatar suas histórias pessoais sobre aborto.
Leia o depoimento de Rebeca abaixo.
Desde que meu filho mais novo nasceu, há seis anos, eu tomava injeções de hormônio a cada três meses. Nesse período, eu engordei demais: sou baixinha, e fiquei muito fora do meu peso.
Eu estava há seis anos sem menstruar e, por isso, resolvi parar de tomar a injeção até meu ciclo menstrual se normalizar para que eu pudesse colocar um DIU — porque seria um contraceptivo menos danoso para o meu corpo. Desde que eu parei de tomar as injeções, emagreci 10 quilos. Minha saúde estava melhorando.
Eu trabalho na rua, então tenho a liberdade de parar às 11h e voltar para casa. Aí eu arrumo meus filhos e levo para a escola — deixo eles lá às 13h e volto a trabalhar. No fim da tarde, umas 17h, eu tenho que buscá-los e levá-los para casa, porque às 18h30 eu preciso sair para a faculdade.
Às vezes eles ficam com o pai, mas é muito raro. Porque o pai tem que sair para trabalhar, às vezes a irmã dele não pode ficar [com os sobrinhos].
Eles costumam ficar sozinhos em casa. Na faculdade eu ainda consigo levar o pequenininho, mas de manhã, quando eu chego, os dois estão dormindo. Eles dormem tarde porque eu chego tarde da faculdade.
Se essa situação for para frente, a partir de fevereiro nós vamos passar necessidade. A gente passaria muita necessidade, mesmo. Vai faltar dinheiro para comprar comida — a ponto de eu ver meus filhos chorando em casa, com fome, e eu não ter o que fazer.
Porque para ele, antes, o importante era a faculdade. Agora que está trabalhando, o importante é o trabalho dele, e mais para a frente ele pretende fazer uma pós-graduação. Então, tudo que se refere aos meninos é comigo.
Eu engravidei do nosso primeiro filho no começo da relação, e fomos morar juntos. A gente viveu um momento separados, mais ou menos um ano, mas logo que o mais velho nasceu voltamos a morar juntos. Foi assim até três anos atrás, em 2014, quando a gente se separou de vez.
Comprei o teste na segunda-feira passada [dia 13 de novembro], fiz assim que voltei da faculdade e deu positivo. Eu liguei para ele, a gente acabou se encontrando para conversar na rua porque ele não queria que os meninos ouvissem. Eu falei para ele que estava grávida de novo.
Naquela segunda à noite, ele perguntou o que eu ia fazer. Eu disse que não sabia, que ia pensar. Mas reforcei para ele: “A última decisão é minha, mas eu vou pensar”.
E com medo de procurar auxílio e acontecer alguma coisa penalmente, que inclusive foi uma disciplina que eu tive na faculdade no semestre passado.
Ele disse que ia dar tudo certo. Naquela segunda-feira eu não dormi.
Eu acredito muito que a minha opinião sobre aborto veio, sim, por causa da faculdade. Porque lá você aprende o que é sofrer um processo penal, a consequência de um crime de aborto. Eu acho que a minha posição é muito pelo conhecimento na área que eu tenho hoje em dia.