Espero que surta efeito, diz única do país a assinar carta à OMS sobre Rio-2016, de Paulo Roberto Conde.
Publicado originalmente por Folha de S. Paulo, em 27 de maio de 2016.
Única brasileira signatária da carta redigida por 150 especialistas à OMS (Organização Mundial de Saúde) que pede adiamento ou transferência dos Jogos Olímpicos do Rio, a professora Débora Diniz, 46, afirmou que sua motivação foi questionar a entidade e o governo brasileiro sobre as indefinições quanto ao vírus da zika.
Especialista em bioética e professora da Universidade de Brasília, ela faz parte de um grupo internacional que aderiu ao manifesto. Em sua opinião, faltam pesquisas e esclarecimentos sobre a doença que garantam proteção à saúde, sobretudo a das mulheres.
“Temos ou não temos uma epidemia no Brasil? Temos ou não temos uma série de perguntas relacionadas à transmissão vertical do zika?”, indagou Débora, referindo-se principalmente à atuação do governo federal.
“Minha perspectiva é dupla: de saúde global e a saúde das mulheres. Há seis meses falamos sobre os impactos da doença e o silêncio do governo brasileiro com relação a incluir as mulheres no centro da epidemia. Olimpíada é um momento de grande trânsito internacional de visitantes para o país. É um momento de um risco global”, complementou.
A estimativa é a de que 500 mil turistas estrangeiros visitem o Rio no período dos Jogos, que ocorre de 5 a 21 de agosto. A professora disse estar ciente de que há um “rito montado” e de “haver muito dinheiro envolvido”, o que impediria a remarcação dos Jogos Olímpicos. Porém, ela reiterou sua preocupação com a disseminação do vírus.
Débora lembrou que, neste mês, a OMS fez recomendações para que as pessoas usem manga comprida, façam relações sexuais protegidas e permaneçam o máximo de tempo possível nos hotéis, em quartos com ar-condicionado, durante a estadia no Rio.
“Qual é o sentido de uma Olimpíada se recomendam às pessoas ficarem no hotel?”, questionou.
Os Jogos Olímpicos receberão cerca de 10.500 atletas de 42 modalidades, pertencentes a 206 nações filiadas ao COI (Comitê Olímpico Internacional).
“Eu espero que [a carta] surta algum efeito. Não iria me expor tanto se não esperasse uma resposta genuína da OMS. Às vezes, as organizações precisam ser impulsionadas pela sociedade civil”, assinalou.
Ela criticou também a passividade das autoridades e da sociedade brasileira em meio à proliferação do vírus.
“Me impressiona termos tido um movimento tão grande no Brasil como o ‘Não vai ter Copa’ e, nesse momento, não conseguirmos fazer o mesmo em nome da iminência de um risco tão grande. Me parece que é porque a doença está concentrada em regiões empobrecidas e anônimas do país.”