por Debora Diniz
Publicado originalmente na Marie Claire
O concurso para cadetes da polícia militar do Paraná se confundiu ao publicar o edital de habilidades emocionais para os candidatos – pensou em humanos, mas escreveu sobre exterminadores do futuro. Inspiraram-se em videogames ou filmes de lutadores, e listaram tolices que foram descritas como “critérios de masculinidade”. Masculinidade não é um critério e sequer um valor para a cidadania: é um estereótipo pernicioso à imagem da polícia. E erra mais ainda quem pensa no equívoco porque há mulheres na polícia, ou seja, não caberia falar de masculinidade, pois como ficariam as feminilidades? Elas são muitas, é verdade, e tão bem qualificadas que o Edital precisa limitar sua participação – elas não podem ser a maioria das aprovadas.
O Edital é mais grave ao esperar brutos como policiais. Homens e mulheres policiais são cidadãos, são pais e mães, filhos e irmãos. Vão à igreja ou ao templo, são homens e mulheres de fé, exercitam a compaixão. Choram no casamento e se emocionam com o nascimento dos filhos. Cuidam de quem os convoca ao uso do monopólio da força, por isso devem dar o exemplo de como se cumpre a empatia na farda. O peso de uma arma não é um carimbo na alma para o abandono do humano – ser um policial é ser um sujeito obediente, cooperativo, comunitário e honesto. Esses são os valores que esperamos de um futuro policial.
Não há nada de masculino ou feminino como dons necessários a um justo policial. Isso são fantasias de quem teme a chegada das mulheres à polícia. O estereótipo é misoginia. Não é por coincidência que há tantos policiais adoecidos, entristecidos com a carreira, ou mesmo alguns sem a clara fronteira sobre qual seja o seu ofício – se na lei ou no crime. O Edital não é para futuros matadores de organizações criminosas, é para cidadãos que acreditam estar na polícia o caminho do justo e do bem.