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Publicado originalmente no Correio Braziliense
Postagens em páginas e perfis em redes sociais contrários à regularização do aborto direcionam agressões à professora da Universidade de Brasília (UnB) Debora Diniz. A docente, que trabalha diretamente com o tema e defende a descriminalização, relata também ter recebido, por ligações e mensagens, ameaças explícitas e ofensas graves. Ela registrou queixa na Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (Deam), que apura o caso.
Monstro e assassina são alguns dos adjetivos direcionados publicamente, em redes sociais, à antropóloga, que atua na Faculdade de Direito da instituição e foi escolhida em 2016 um dos cem pensadores globais pela revista norte-americana Foreign Policy, por pesquisas sobre grávidas infectadas pelo zika vírus. Diniz estuda temas como feminismo, bioética, direitos humanos e saúde.
Ela afirma que as ofensas e ameaças começaram há alguns meses e que esperava que, com o tempo, elas diminuíssem. “Esperei um tempo passar para ver se desaparecia, mas piorou e passaram a compartilhar isso em páginas e grupos com milhares de seguidores”, conta.
Uma das postagens, publicada em página do Facebook com cerca de 9 mil seguidores, traz a foto da professora e um texto que destaca o trabalho dela pela regularização do aborto. A mensagem termina chamando Debora de monstro. O post teve dezenas de comentários e mais de 800 compartilhamentos (diversos deles acompanhados por mais ofensas).
Audiências públicas relacionadas à descriminalização do aborto, como a que ocorrerá no início de agosto no Supremo Tribunal Federal (STF), com a participação de Debora, foram um fator que, na visão da professora, causaram o aumento das agressões. “O tema provoca tanta intensidade que as pessoas acabam ficando muito afetadas”, diz.
Ela relata que recebe inúmeras ligações e mensagens desde que as postagens começaram a circular. “Começaram a fazer campanha me desqualificando, me chamando de assassina, de monstro e me mandaram coisas mais graves. Depois me ligaram, me mandaram mensagens com ameaças mais explícitas”, afirma.
A professora ponderou se registrava ou não denúncia sobre o caso e tentou não expor a situação. Ela afirma que não queria amplificar e dar mais visibilidade ao assunto. “Essa decisão de enfrentar e de levar a sério é difícil. É complicado saber se são covardes de internet ou se há ameaças concretas. Mas, como eles iniciaram uma campanha botando minha foto e tudo, eu tive que tomar essa decisão”, explica.
Em nota, o Gabinete da Reitoria UnB declarou que repudia as agressões. “A Universidade de Brasília está acompanhando a situação, em contato com a professora Debora Diniz. A UnB tem, entre seus princípios, a liberdade de cátedra e o compromisso com a paz e repudia quaisquer manifestações de ódio e intolerância”, diz o texto.
Outras instituições também declaram apoio a Debora e cobraram a punição dos responsáveis pelas ameaças. “Manifestamos nossa irrestrita solidariedade à professora Debora Diniz e cobramos das autoridades policiais e judiciais a identificação e punição dos covardes agressores que se escondem com o vergonhoso véu do anonimato”, aponta o texto do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva (PPGBios), desenvolvido em associação entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) também divulgou nota cobrando proteção ao trabalho da docente. “Além de repudiar as agressões, a Abrasco cobra das autoridades policiais e judiciárias ações capazes de proteger a integridade do trabalho e da própria Débora, com a devida punição dos agressores.”
Segundo a Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (Deam), os fatos estão sendo apurados e a investigação ocorrerá de forma célere. A Deam afirmou que ainda não pode dar mais detalhes sobre a questão, mas que, “no momento adequado”, prestará informações e esclarecimentos sobre a denúncia e os resultados da investigação.