[vc_row][vc_column width=”1/3″][/vc_column][vc_column width=”2/3″][vcex_navbar menu=”6″ button_color=”black” font_weight=”” hover_bg=”#c7aae2″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Como o Zika chegou ao Brasil e como vamos exportá-lo para outros países, de Manuela Pagan.
Publicado originalmente por Vix, em 9 de agosto de 2016.
Com os Jogos Olímpicos sendo realizados no Rio de Janeiro, os olhos do mundo se voltam para o Brasil, mas não só pelos nossos dotes desportivos ou pelas maravilhas turísticas do país-sede. A principal preocupação é o Zika, vírus originário da África, mas que sofreu mutações e encontrou por aqui ambiente e população ideais para se tornar uma emergência global, como decretou a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No entanto, não é apenas através das Olimpíadas que o Brasil pode “exportar” o vírus causador de microcefalia, Síndrome de Guillain-Barré e outras alterações neurológicas ainda em investigação. Espera-se que o fluxo normal de pessoas entre países também seja capaz de carregá-lo para locais onde ele ainda não é um problema de saúde pública.
Conversamos com especialistas e mapeamos cada passo do Zika pelo mundo para entender como a epidemia chegou a este ponto e quais são os futuros riscos que a humanidade enfrentará.
O Zika é um vírus do gênero Flavivirus transmitido por espécies do mosquito Aedes como o aegypti, o albopictus e o africanus, além do mosquito Culex, o pernilongo doméstico, como evidências recentes vêm demonstrando. Ele foi isolado pela primeira vez em 1947, em um macaco rhesus controlado por pesquisadores na Floresta de Zika, localizada em Uganda (no leste da África).
O geógrafo Christovam Barcellos, coordenador do Laboratório de Informação em Saúde e do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz, explica que, nessa época, o Zika circulava mais entre macacos que entre seres humanos e desencadeava uma doença de evolução benigna, autolimitada, cujos sintomas envolviam febre e conjuntivite.
Nas décadas seguintes, o vírus passou a se espalhar em direção à Ásia equatorial e, em 2007, causou seu primeiro surto, na ilha de Yap, parte dos Estados Federados da Micronésia, país da Oceania. Entre 2013 e 2014, houve surtos em quatro países insulares do Oceano Pacífico: na Nova Caledônia, nas Ilhas Cook, na Ilha de Páscoa e na Polinésia Francesa, onde houve o maior número de casos.
Por meio de sequenciamento genético de nova geração, pesquisadores do Instituto Evandro Chagas, da Universidade de Oxford e de outras instituições ao redor do mundo elaboraram um método para analisar como se deu a chegada do Zika ao Brasil.
O estudo, publicado no periódico científico Science, mostrou que todas as amostras do Zika que circulam nas Américas, inclusive no Brasil, têm um antecessor em comum: a cepa de vírus que circulou em 2013 na Polinésia Francesa (Oceania).
Eles descobriram também que o vírus chegou ao Brasil provavelmente no ano de 2013, entre os meses de maio e dezembro. Esse período de tempo coincide com um aumento do fluxo de pessoas de países com endemia de zika para o Brasil.
A médica sanitarista Ana Freitas Ribeiro, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, explica que uma das hipóteses é que o vírus tenha chegado por aqui durante a Copa das Confederações, evento de futebol que contou com a participação da seleção do Taiti, a maior ilha da Polinésia Francesa, em jogos no Rio de Janeiro e no Recife.
Outra possibilidade considerada pelos cientistas é que a entrada do Zika no Brasil tenha ocorrido em agosto de 2014, quando equipes da Polinésia Francesa, Nova Caledônia, Ilhas Cook e Ilha de Páscoa – países insulares do Oceano Pacífico com circulação de Zika – vieram ao Rio de Janeiro para a competição de canoagem Va’a World Sprint.
Christovam Barcellos explica que, em 2014, as Secretarias de Saúde Estaduais do Nordeste começaram a detectar muitos casos de exantema, uma erupção cutânea avermelhada, geralmente relacionada a infecções. Em 2 de março de 2015, o Brasil notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre uma doença caracterizada por exantema até então branda e sem casos de mortes relatados e, em abril do mesmo ano, a Universidade Federal da Bahia identificou o Zika em amostras dos pacientes com os sintomas descritos.
De lá para cá, o vírus se espalhou para todos os estados brasileiros, ao todo, já são mais de 165 mil casos de acordo com o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. A região Nordeste continua sendo responsável por grande parte dos casos prováveis. É lá também que está a maioria dos casos de microcefalia causada pelo vírus.
O geógrafo conta que existe uma hipótese científica que explica que o grande impacto do Zika na região Nordeste se deu em função de uma seca muito forte que aconteceu entre os anos de 2013 e 2014, principalmente nas regiões em que se verificou, posteriormente, uma alta taxa de microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré. É provável que a seca tenha causado uma debilidade do sistema imunológico nos indivíduos, deixando-os mais suscetíveis ao Zika e a suas consequências.
Outra possibilidade considerada pela ciência é que o vírus ainda não chegou com força a outras regiões. “Pode ser que ele ‘ainda esteja chegando’ e aí as regiões que ainda não foram fortemente atingidas, como o estado de São Paulo, enfrentarão uma nova onda de zika no próximo verão”, explica Christovam.
De acordo com a OMS, depois de 2007 – provavelmente o ano em que ele mutou e se tornou uma ameaça maior -, o Zika chegou na Polinésia Francesa, na Nova Caledônia, nas Ilhas Cook e e na Ilha de Páscoa – países atingidos antes do Brasil – e posteriormente nas Ilhas Salomão, Vanuatu, Papua Nova Guiné, Samoa, Fiji, Colômbia, Cabo Verde, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Suriname, Venezuela, Guiana Francesa, Honduras, Martinica, Panamá, Porto Rico, Bolívia, Ilhas Virgens, República Dominicana, Costa Rica, Guadalupe, Saint Martin, Nicarágua, Barbados, Maldivas, Equador, Guiana, Jamaica, Curaçao, Samoa Americana, Haiti, Tonga, Peru, Ilhas Marshall, Saint Vincent e Granadines, Saint Maartan, Trinidade e Tobago, Aruba, Bonaire, Micronésia, Vietnã, Cuba, Filipinas, São Bartolomeu, Saint Lucia, Belize, Argentina, Granada e Anguilla.
Alguns países, como França, Espanha e Estados Unidos, não entram nessa lista porque, apesar de terem casos de pessoas que desenvolveram zika depois de viajar a uma região endêmica ou foram contaminadas via relação sexual, ainda não foi confirmado que o vírus nasce e se dissemina através do mosquito nesses países.
Apenas o sequenciamento genético do vírus Zika circulante em cada país pode dizer com mais precisão se ele veio do Brasil ou de outra localidade. Até agora, só se tem notícias de que Cabo Verde realizou essa análise e, de fato, “herdou” o Zika brasileiro.
No entanto, acredita-se que o Brasil foi a porta de entrada do continente para o Zika e o repassou, posteriormente, para países da América do Sul – como Venezuela, Paraguai, Peru e Argentina – da América Central – como Costa Rica – e da América do Norte, onde pesquisadores ainda investigam a transmissão do vírus através do mosquito.
O professor Christovam Barcellos explica que a chegada do Zika brasileiro a Cabo Verde (África) é um sinal de alerta para o alastramento da cepa do vírus que aqui circula – de ação não tão branda quanto o original africano – pelo continente
Lá, como aqui, há alta concentração de mosquito Aedes, capaz de disseminar a doença, e áreas que não contam com o saneamento básico adequado – outra semelhança com o Brasil. Além do ambiente propício para epidemia de zika, a dificuldade de enfrentamento à doença em função de frágeis sistemas públicos de saúde pode agravar uma possível epidemia.
Espera-se também que o Zika migre para o sul da Europa (há Aedes albopictus na Itália, Espanha, França, Croácia e Grécia) e para os Estados Unidos (onde sua transmissão já está em investigação). Mas todos os outros países onde há o mosquito Aedes também estão suscetíveis, como a Arábia Saudita e a China – na Ásia -, Uruguai – na América do Sul – e Antígua e Barbuda – na América Central.
Os especialistas se dividem quando o assunto é o modo como os Jogos Olímpicos influenciarão o espalhamento do Zika ao redor do mundo.
Para a OMS, adiar ou mudar o local de realização das Olimpíadas não afetará o alastramento internacional do Zika apesar da chegada esperada de 500 mil turistas de diversos países. Segundo a instituição, para reduzir o risco de pegar zika o mais indicado é seguir as recomendações de saúde pública, que incluem abstinência sexual ou o uso de camisinha, manter distância de áreas sem saneamento básico, usar repelente e procurar por acomodações com ar-condicionado. A única exceção fica para mulheres grávidas, que não devem viajar para regiões onde o vírus circula.
Outro órgão de saúde pública, o Centers for Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos, também fez uma previsão baseada em modelos matemáticos para estimar o potencial do alastramento do Zika durante as Olimpíadas. Eles chegaram à conclusão que 19 países que vêm às Olimpíadas e não têm atualmente um surto de Zika têm condições ambientais e quadro populacional capazes de sustentar a transmissão da doença: Angola, China, Hong Kong, São Tomé e Príncipe, Omã, Arábia Saudita, Congo, Myanmar, Antígua e Barbuda, Ilhas Cayman, Gana, Ruanda, Eritreia, Iêmen, Djibouti, Gâmbia, Chade, Mauritânia e Sudão.
Segundo o levantamento, para 15 desses 19 países, a viagem ao Rio de Janeiro não elevará o risco de espalhamento do vírus acima do usual. Os quatro países remanescentes – Chade, Djibouti, Eritreia e Iêmen– têm baixa quantidade de nativos viajando a países com transmissão local em comparação com a quantidade de pessoas vindo aos Jogos. Eles concluem dizendo que esses países enviarão no total 19 atletas ao Brasil, uma fração mínima considerando a quantidade total de pessoas que virão para cá.
No início de 2016, 150 cientistas de diferentes países, liderados pelo professor Arthur Caplan, fundador da divisão de bioética da Universidade de Nova Iorque (EUA), escreveram uma carta endereçada à OMS pedindo que os Jogos Olímpicos fossem adiados ou transferidos para outro lugar.
Eles alegam que o evento potencializa o alastramento do Zika por outros países, principalmente os países pobres – da África e do sul da Ásia – ainda intocados pelo Zika brasileiro e onde o sofrimento e os danos à saúde pública seriam massivos, e questionam: é ético permitir esse risco em função de um evento social e comercial?
A única brasileira que assina a carta é a antropóloga Debora Diniz, professora da Universidade de Brasília. A advogada e pesquisadora Sinara Gumieri, que trabalha essa questão junto com Debora no Anis Instituto de Bioética, explica que a principal preocupação é com o espalhamento das consequências da infecção ao redor do mundo. “Aí então chegaria não só o zika, mas também a transmissão vertical de mãe para filho, causando a síndrome congênita do zika, que inclui a microcefalia”, comenta.
Um dos argumentos da carta considera que, apesar de os jogos ocorrerem nos meses de inverno no Brasil, quando a circulação do Aedes diminui, existem outros fatores que fazem com que os riscos permaneçam altos, como o fato de o Rio de Janeiro ser uma cidade quente e com diversas áreas de saneamento básico precário.
Além disso, há também a recomendação de abstinência sexual – que, para Sinara “é absurda porque não funciona, não é respeitada” – e o uso de camisinha, que em climas festivos, como o dos jogos, pode ser facilmente esquecida.
A advogada pondera ainda em relação aos estudos que apontam que a exportação do Zika daqui para outros países durante as Olimpíadas são minímas: “Para espalhar para outros países, não é preciso que muitas pessoas sejam contaminadas, basta uma. Não concordamos que não seja um risco aumentado, é um risco a mais”.
A carta questiona também a possibilidade de que a Organização Mundial de Saúde rejeite essas alternativas em função do conflito de interesses decorrente de uma parceira sua com o Comitê Olímpico, consagrado através de um memorando cujos termos permanecem em segredo. A carta pede que a OMS torne público esse memorando, evitando dúvidas sobre a neutralidade da instituição.
Pesquisadores britânicos do Imperial College London publicaram recentemente um estudo baseado nas informações sobre Zika disponíveis atualmente e em um modelo matemático que prevê que a epidemia na América Latina irá regredir espontâneamente daqui a dois ou três anos. O motivo para esse desfecho seria que grande parte da população já terá sido infectada e considera-se, atualmente, improvável que a infecção ocorra duas vezes na mesma pessoa.
O geógrafo Christovam Barcellos explica que essa teoria não é exatamente tranquilizadora, uma vez que, para que todas as pessoas fiquem imunizadas através da própria infecção, há, provavelmente, um caminho ainda longo de adoecimento da população e gastos em saúde pública.
O estudo explica ainda que os esforços para conter o Zika – como a vacina que está em desenvolvimento, por exemplo – deveriam ter começado muito antes para ter um impacto maior sobre a epidemia. No entanto, quando foi percebido o tamanho do problema, já era tarde demais. Para Christovam Barcellos, é realmente possível que os surtos de Zika no Brasil estejam muito mais restritos no momento em que houver uma vacina disponível.
No entanto, para o epidemiologista Eduardo Maranhão, o desenvolvimento de uma vacina eficaz, segura , barata e aplicada massivamente (em mais de 95% da população) reduzirá drástica e rapidamente o número de pessoas suscetíveis à infecção.
Outra hipótese é que o Zika se torne um vírus endêmico na América Latina, ou seja, que cause uma doença com ciclos permanentes de transmissão e com frequência mais baixa, mas também relevante.
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