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Assim como educação, gênero e raça afetam renda

21 de outubro, 2018

Políticas para reduzir a diferença salarial entre homens e mulheres e brancos e negros teriam o mesmo efeito na desigualdade que aumento da escolaridade

por Cássia Almeida e Matheus Maciel

Publicado originalmente no O Globo

As estatísticas mostram que, em média, homens ganham mais que mulheres, negros têm salários mais baixos do que os dos brancos. A disparidade de renda relacionada a gênero e raça no Brasil ainda é tão intensa que reduzi-la à metade hoje provocaria um efeito sobre a desigualdade similar ao que o país teria colhido se tivesse mantido na escola até o fim do ensino médio quem era criança na década de 1990. Hoje, só 25% da força de trabalho têm mais de 11 anos de estudo. A conclusão está em um estudo inédito dos sociólogos Marcelo Medeiros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Rogério Barbosa, pós-doutorando da USP, e Flavio Carvalhaes, do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade da UFRJ.

— O Brasil é tão complexo que a desigualdade aqui não se reduz somente com educação. Não gastamos a energia necessária para diminuir diferenças de gênero e raça nas últimas décadas. Isso é ruim para a economia e para o país. A mulher que ganha menos acaba desistindo do mercado de trabalho. Como elas são mais escolarizadas, perde-se em produtividade — diz Medeiros.

Um homem com idade e instrução iguais às de uma mulher que vive na mesma região ganha 43,9% mais que ela. Se for branco, tem uma vantagem salarial de 12,7% sobre um negro. Os pesquisadores concluíram que, se nos últimos 24 anos, o país tivesse adotado políticas de igualdade de gênero e de raça e, hoje, essas disparidades fossem significativamente menores (ou seja, uma diferença de 24,8% no gênero e de 6,6% na raça), o impacto sobre a desigualdade de renda geral do Brasil seria o mesmo que ter proporcionado ensino médio completo ou formação superior para todos os brasileiros que tinham até dez anos em 1994.

O estudo usou dados dos últimos anos, com a data de referência de 1994, como uma forma de aferir o impacto de diferentes abordagens no combate à desigualdade. A simulação serviu para demonstrar o efeito limitado de usar apenas a política educacional como estratégia de combate à desigualdade, já que os aspectos de gênero e raça têm peso grande na disparidade brasileira.

 

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