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A precarização da vida pela fome e pela seca agrava os casos da síndrome congênita do zika – Link para a matéria: https://azmina.com.br/colunas/as-novas-geracoes-do-planeta-fome-zika-e-desigualdade/ –

5 de fevereiro, 2020

Por Nara Menezes

Publicado originalmente o site da revista AzMina

Em 1953, Elza Soares iniciava sua carreira como cantora no programa de Ary Barroso, anunciando que veio “do Planeta Fome”. Para 5 milhões de brasileiros, ainda vivemos neste mesmo planeta. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas pelos índices de insegurança alimentar e também pelo desabastecimento de água tratada.

Pesquisas publicadas recentemente demonstraram que esses dois fatores podem ser agravantes dos casos de síndrome congênita do zika*. Um estudo demonstrou que a desnutrição de mulheres grávidas aumenta a vulnerabilidade à síndrome congênita do zika nos fetos e outra pesquisa sugere que a concentração de uma cianobactéria presente nos reservatórios de água – encontrada com mais frequência no Nordeste que em outras regiões – também pode agravar os efeitos da síndrome.

 

A combinação entre essas vulnerabilidades sociais adiciona elementos para explicar por que 63% dos casos da síndrome foram registrados na região. Mas os outros 37% distribuídos pelas demais regiões do país apresentam outras similaridades que não a geográfica.

Há uma estrutura social necropolítica, que determina condições de vida sub-humanas a uma parcela da população: direitos básicos como água e comida lhes são negados. Quando disponíveis, oferecem novos riscos. É a alimentação insuficiente em proteínas ou a água com alta quantidade de toxinas, ambas agora identificadas como possíveis agravantes para o quadro da síndrome congênita do zika.

As famílias já afetadas pelo vírus ainda se vêem sem condições de arcar com a alimentação especial que muitas das crianças necessitam ou com o transporte para chegar aos centros de tratamento.

Às mulheres que vivem nas regiões mais afetadas, muitos disseram que deveriam evitar a gravidez diante dos riscos. As perguntas são duas: como e até quando. Os métodos contraceptivos e as informações sobre planejamento familiar eram e ainda são insuficientes. E o zika não deixou de circular pelo país.

Diante de um cenário em que os acessos a direitos são desiguais, o que está em jogo não é só o genocídio que se materializa em assassinatos. A gestão dos corpos é racial, regional, de gênero e classe. Determina quem tem o direito de nascer, quem pode planejar uma família e sob quais condições pode viver.

* A Síndrome Congênita do Zika é um conjunto de sintomas que se manifestam em crianças cujas mães foram infectadas pelo vírus durante a gestação, seja por meio da picada do mosquito ou por relações sexuais com parceiros infectados. Além da microcefalia, outros sintomas podem estar presentes como problemas de audição e visão. – Link para a matéria: https://azmina.com.br/colunas/as-novas-geracoes-do-planeta-fome-zika-e-desigualdade/ –

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