por Amanda Klasing
Publicado originalmente na HRW
Maria Gabriela Silva Alves completa hoje dois anos de idade, mas não vai ter nenhuma festa, presente ou bolo para comemorar o seu aniversário. Gabi, como seus pais a chamam, sofre a síndrome congênita de Zika, e a sua família simplesmente não tem condições financeiras de arcar com uma festa.
Gabi é uma das milhares de crianças nascidas com síndrome congênita de Zika no Brasil nos últimos dois anos e meio. Tive a oportunidade de conhecê-la e a sua família no nordeste do Brasil enquanto fazia uma pesquisa para a Human Rights Watch sobre o impacto da epidemia de Zika. Aos 8 meses de idade, Gabi era tão pequena – e a sua mãe a segurava com tanto cuidado e amor – que chegava a comover. Voltei a vê-la em julho do ano passado, quando ela tinha um ano e meio. Tive o prazer de segurá-la nos braços sob o olhar amoroso dos seus pais, Carol e Joselito.
Após o nascimento da filha, Carol e Joselito estiveram sob os intensos holofotes da mídia, mas contaram com pouco apoio do governo. Os médicos não tinham – e ainda não têm – certeza de como será a vida de Gabi. Apesar disso, o casal continua a buscar obstinadamente por serviços de apoio e cuidado à filha. Conseguiram uma nova cadeira automática para Gabi que facilita os seus movimentos. E depois de passarem quase metade da vida da filha tendo que se deslocar por longas distâncias para ter acesso aos cuidados de saúde necessários, conseguiram também o direito a consultas médicas no próprio município, com o transporte fornecido.
Mas essas conquistas não vieram sem custos ou sacrifícios. Para sustentar Gabi e o seu irmão mais velho, colocar comida na mesa e um teto sobre as suas cabeças, a família contraiu dívidas impagáveis. Embora Carol e Joselito recebam uma pequena contribuição financeira do governo, falta dinheiro até mesmo pra manter a família saudável; é impensável comemorar o aniversário de Gabi.
Gabi e a sua família não são uma exceção. Embora as manchetes sobre a Zika tenham quase desaparecido, crianças por todo o Brasil e ao redor do mundo continuam a crescer e a lidar com a síndrome. Elas já não são mais bebês, e tanto elas quanto as suas famílias precisam de apoio e cuidados diferentes. Manter um emprego, comprar remédios caros e deslocar-se para centros urbanos para consultas médicas não são tarefas fáceis, ainda mais com tantas outras responsabilidades familiares agravadas pela Zika. As autoridades locais, federais e a comunidade internacional como um todo precisarão encontrar soluções para as necessidades de Gabi e de tantas outras crianças como ela, não só na área da saúde como também na educação e em relação a outras necessidades ainda desconhecidas.
Desejo a Gabi um feliz aniversário, e espero que ela e sua família desfrutem de boa saúde. Espero também que possam receber todo o apoio que merecem.