updraftplus
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u180249597/domains/anis.org.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114polylang
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u180249597/domains/anis.org.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114por Ana Carolina Fonseca
Publicado originalmente no Correio Braziliense
Especialistas em análises forenses e em violência contra a mulher acreditam que Sidnei Araújo, 46 anos, que matou a ex-mulher, o filho e mais 10 pessoas durante o réveillon em Campinas (SP), cultivava uma ideologia “extremamente machista”. Embora confuso, o discurso apresentado pelo assassino nas cartas que ele deixou, permite afirmar que ele nutria um ódio generalizado contra as mulheres e se sentia uma espécie de vítima de leis e outras ações que buscam garantir o direitos a elas.
Para a doutora Carmen Rosa Caldas-Coulthard, especialista em linguística forense e estudos de gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), chama a atençao o fato de o autor do crime se referir à ex-mulher e a outras mulheres da família dela como “vadias”. “O uso é derrogativo (diminuidor), acachapante, considera a mulher inferior. Isso está claro”, afirma a especialista.
Em 2012, Sidnei foi acusado pela ex-mulher, Isamara Filier, 41 anos, de ter abusado sexualmente do filho, João Victor, 8, também morto na tragédia. A Justiça teria estipulado regras de convívio restritas após a denúncia. A escolha de palavras e os assuntos tratados no texto indicam, segundo Caldas-Coulthard, uma indignação com as mulheres e com o sistema político. Na carta, o assassino culpa o “sistema feminista e umas loucas” por não poder ver o filho crescer.
A especialista também aponta inconsistências no texto, principalmente em termos de tópicos, que variam com frequência. “É dirigido ao filho, aos amigos, aos policiais…”, ressalta. Essa instabilidade também fica clara, segundo a pesquisadora, nas referências ao filho: “Ele clama pelo direito de ser pai, mas, ao mesmo tempo, se inclui no grupo de loucos; foi denunciado como pedófilo, mas nega”, diz Caldas-Coulthard.
O psiquiatra forense Talvane de Moraes, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, afirma que um caso desses é muito grave, mas que é difícil tirar conclusões sem contato com o autor. No entanto, ele levanta a possibilidade de que o assassino estivesse caminhando para um estado psicótico. “Ele se sentia injustiçado, e esse é um dos sentimentos mais terríveis do ponto de vista emocional”, analisa.
A antropóloga e professora de direito da Universidade de Brasília (UnB) Débora Diniz afirma que a principal preocupação neste momento, além da solidariedade com a família, é entender a ideologia machista por trás da mensagem. Esse crime não seria só um “delírio solitário”, já que, na carta, o autor fala do tempo atual. “Fazer uma pergunta sobre quem ele é, se é psicopata, é um caminho simples demais para entender algo mais complexo”, argumenta.
Diniz alerta que a misoginia demonstrada na carta não se configura como liberdade de expressão, já que o “ódio intenso” revelado por Sidnei faz eco e tem uma audiência. “Ele não faz só uma confissão, ele está se comunicando com outros homens que compartilham do que ele acredita, que acham que o homem pode violentar a mulher”, ressalta. A carta, segundo a antropóloga, faz uma convocação para que outros homens ajam como ele.
Outro aspecto de destaque, tanto para Débora Diniz quanto para Carmen Caldas-Coulthard, é a indignação do autor da carta com a Lei Maria da Penha. No texto, ele usa o termo “vadia da penha”, o que seria mais um indicador da aversão que ele sentia pelas mulheres. Segundo a professora da UFSC, há, no texto, uma crença de que o sistema político funciona a favor das mulheres e contra os homens. A especialista, contudo, ressalta, que, na realidade, acontece o contrário: “Existe um sistema que tenta proteger as mulheres e não consegue”.
Sancionada em março de 2015, a Lei do Feminicídio (13.104/2015) classifica esse tipo crime como hediondo e prevê como agravantes situações específicas, como a presença de filhos na hora do assassinato. Segundo o Mapa da Violência 2015 — Homicídio de mulheres no Brasil, pesquisa realizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, em parceria com a ONU, feminicídio é definido como a agressão que resulta em morte, e envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo à condição de mulher.
De acordo com dados dessa pesquisa e da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa a quinta posição no ranking de homicídio de mulheres, entre 83 países. A taxa é de 4,8 homicídios a cada 100 mil mulheres. O indicador brasileiro é 48 vezes maior do que o do Reino Unido. O documento destaca também o local das agressões: 27,1% delas acontecem em domicílios, atrás apenas das vias públicas (31,2%).