por Debora Diniz
Publicado originalmente na Revista Marie Claire
Eu repudio a corrupção em que o PT se envolveu. Não a justifico com a tese tola de que todos os partidos sempre roubaram, e que este foi só mais um. Corrupção é inaceitável, injusta e até imoral. Todos esses sentimentos, no entanto, não me fazem anular meu voto ou escolher Jair como voto de repúdio. Um voto exige mais do que emoções fortes de rejeição: são escolhas sobre qual lado da vida quero estar e no que quero investir o futuro do país.
O antipetismo é uma ideologia e não um fato natural da vida política brasileira. Nomeá-lo como uma ideologia, talvez, nos ajude a arrumar a intensidade dos sentimentos: para alguns, pulsa a traição; para outros, o ressentimento; para muitos, o cansaço. Nenhum desses sentimentos é o que moverá uma democracia, só favorecerá o oportunismo de candidatos sem estatura para ser um presidente do país. Se há um consolo na história recente de erros do PT, foi o fortalecimento das instituições democráticas, como o Judiciário, o que permitiu a própria fiscalização da corrupção. Por isso, importa saber quais dos dois candidatos prometem fortalecer a democracia e a independência entre seus poderes – não busco um comandante, mas um estadista. Se a conversa for sobre partidos, é preciso falar de PT e PSL, o partido do Jair, um ser quase desconhecido, uma figura folclórica do Congresso Nacional, um cabo Daciolo de duas décadas atrás. Mas não é sobre partidos o que conversamos neste momento: a dicotomia é PT e um aventureiro inconsequente, como foi Fernando Collor de Mello no passado.
Há dois erros neste pensamento. O primeiro é que rejeitar não é escolher. A escolha política exige cultura política e para cultivá-la precisamos de informações verdadeiras. Por isso, são tão importantes os debates entre os dois candidatos nestas três semanas de segundo turno. Precisamos afastar o partido de um e encarnar o personagem no outro. Queremos ouvi-los em suas análises e propostas para a segurança pública, para o desenvolvimento do país, para a economia global, o meio-ambiente, ou para a previdência social. Apenas pelos programas de governo de cada candidato não há como esclarecer as propostas: precisamos ouvi-los em confronto como sempre houve na história democrática recente no Brasil. Assim foi com Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, com Dilma Roussef e Aécio Neves.
O segundo erro é que os sentimentos são criados e alimentados por ondas de contágio. Precisamos exercitar o distanciamento e nos perguntar: de onde veio tamanha rejeição e como ela se alimenta? Sim, uma resposta correta, começou com os erros do PT. Mas há outras fontes que são as que nos manipulam e fazem com que, equivocadamente, resignemos nosso direito de escolha ao voto de rejeição. Como sujeitos políticos, primatas educados na filosofia e na política, somos mais sofisticados do que apenas rejeitar para eleger o principal representante deste país. Nessas três semanas é tempo de aquietar as emoções e convocar a razão para decidir o futuro do país. Um primeiro passo é exigir que os candidatos estejam em posição de debate público. Precisamos ouvi-los para decidir.