Os números, narrativas e imagens aqui apresentados nos permitem assegurar que, se há algum paradoxo em curso na epidemia em Alagoas, é o do silêncio sobre seus efeitos para a vida das famílias, e das mulheres em particular. É já tempo de arrumarmos nossas preocupações e mensagens públicas – eliminar o mosquito vetor é, certamente, uma medida urgente de saúde pública, mas proteger os direitos e as necessidades das mulheres e crianças afetadas pela epidemia é ainda mais emergencial. Há uma tragédia humanitária em curso e o nordeste brasileiro é o epicentro da angústia global. Em 2017, nos preparamos para a terceira onda de mulheres afetadas na gravidez pelo vírus zika e pouco foi feito pelo governo brasileiro para colocá-las no centro de proteções da epidemia. Como um agravante, o Ministério da Saúde decretou em maio de 2017 o “fim da situação de emergência” para a epidemia do vírus zika no Brasil. Falsamente, se acredita que houve o “fim da epidemia”. Este documento é um apelo para que as mulheres sejam postas no centro das proteções e dos cuidados da epidemia de zika em Alagoas. Elas e suas famílias estão aqui representadas por números e por cinco biografias, uma tentativa de demonstrar a multidão e facilitar a lembrança por quem nos lê. Esperamos que, como nós da Expedição Maria Bonita, os leitores deste documento entendam o verdadeiro sentido de uma tragédia humanitária e se movam para a garantia dos direitos violados pelos efeitos da epidemia.