A influência da teoria queer nas humanidades também se refletiu nos estudos sobre deficiência, contribuindo para a emergência da teoria crip. A teoria queer postula que a sociedade contemporânea é regida pela hetero-cis-normatividade, enquanto na teoria crip a crítica está no postulado da corponormatividade de nossa estrutura social pouco sensível à diversidade corporal. A tradução do termo crip para aleijado em português é uma forma de dar o mesmo sentido da palavra em inglês, desvelando a zona de abjeção reservada às pessoas com deficiência. Considerando que os estudos gays e lésbicos inicialmente focaram suas investigações na questão da homossexualidade ser um comportamento “natural” ou “antinatural”, permanecendo dentro de uma lógica binária, a teoria queer expande o foco investigativo ao abarcar qualquer tipo de prática sexual ou identidade que estejam na fronteira de categorias normativas ou desviantes. Desde essa perspectiva, os corpos deficientes também são queer. O objetivo deste trabalho é discutir, a partir de relatos autoetnográficos e da análise do filme Avatar, o potencial analítico e intersecional de uma epistemologia queer/crip na constituição da experiência da deficiência desde o “sul global”.