por Nair Rabelo
Publicado originalmente na UnB Notícias
A antropóloga e professora da Faculdade de Direito (FD) da UnB Debora Diniz recebeu o prêmio Jabuti 2017 na categoria Ciências da Saúde pelo livro Zika, do sertão nordestino à ameaça global. A identificação da epidemia e sua relação com a síndrome congênita da microcefalia no Brasil aconteceu em novembro de 2015 e está prestes a completar dois anos.
A obra é fruto de viagem à cidade paraibana de Campina Grande, onde a pesquisadora entrou em contato com mulheres que contraíram o vírus e tiveram complicações na gestação. Lá ela conversou com médicos e acompanhou consultas. Inicialmente, foi produzido um documentário sobre o tema: Zika, lançado em abril de 2016.
“A primeira ideia de tudo foi fazer o movimento para garantir direitos das mulheres e das crianças afetadas pelo zika”, comenta Debora Diniz, cuja atuação se concentra nos campos da saúde e do direito femininos. “O filme foi uma tentativa de dar rosto e voz àquelas mulheres, que não conhecíamos. A partir disso, minha editora avaliou que seria importante contar essa história, contar para além das informações médicas e descritivas da doença: relatar a parte humana da epidemia”, diz. Sobre a relação entre documentário e livro, a professora afirma que são elementos complementares: “Têm a mesma premissa e pressuposto ético e político de que precisamos contar essa história”.
Debora Diniz espera que a premiação possa reacender as luzes sobre a discussão em torno do tema, que para ela, enfrenta um estado de inércia. “O prêmio por ele mesmo é uma coisa bonita, estimulante, mas muito menos importante quando estamos diante de uma tragédia humanitária como foi o zika e suas consequências. Estamos falando de milhares de crianças, dentre as populações mais pobres e vulneráveis do país, que foram completamente esquecidas e estão fora do centro da discussão sobre garantias de direitos”, considera.
Para a docente, a versão do livro traduzida para o inglês, Zika: From the Brazilian Backlands to Global Threat, lançada em setembro deste ano, é um sinal importante de como a conversa deve ser ampliada e lançada em âmbito mundial. “Hoje não vemos ninguém dizer mais nada. É como se não existisse, como se o vírus não estivesse mais no nosso país, como se não houvesse mais casos ou como se as demandas das pessoas afetadas tivessem sido atendidas. Mas nada disso é verdade”, alerta.