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Por que falar de gênero nas escolas?

22 de julho, 2016

Por que falar de gênero nas escolas?, de Luciana Brito.
Publicado originalmente por Justificando, em 22 de julho de 2016.

O debate sobre a importância da discussão de gênero nas escolas já é figurinha repetida em nossa página do Facebook. E não nos cansaremos de repetir: falar de gênero na escola é exercitar a cidadania para o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres. Acreditamos que pouco importa se nascemos em um corpo sexado fêmea ou macho: temos o direito de habitar nossos corpos como desejarmos sem medo de violência e discriminação.

Gênero na escola tem se tornado tema maldito para muitos. Mas nós resistiremos e não nos cansaremos de repeti-lo, pois acreditamos que o espaço escolar deve promover a igualdade. Se há razão em dizer que ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher, também diremos que ninguém nasce homofóbico, transfóbico ou agressor de mulheres. Há uma socialização do gênero, uma pedagogia dos corpos. Não há isso de natureza masculina, a qual condiciona homens com pênis a serem provedores, fortões ou gostar de mulher; ou, então, natureza feminina, que condiciona mulheres com vagina a serem mães, delicadas e boas esposas de homens.

Há um regime de precarização de mulheres e dos que vivem fora da norma. A rua é um espaço perigoso às mulheres que têm medo de serem estupradas por um desconhecido ao andarem desacompanhadas, mas a casa também está longe de ser espaço protegido para aquelas que sofrem violência de seus pais ou companheiros. Homens e mulheres trans ainda lutam pelo direito a um nome diferente do que receberam ao nascer, mulheres morrem por abortos clandestinos, a população LGBT sofre violência todos os dias pelo simples fato de serem gays, lésbicas, transexuais, bissexuais ou travestis. O terceiro relatório de violência homofóbica, publicado pelo extinto Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, mostrou que ao menos cinco casos de violência homofóbica são registrados todos os dias no Brasil. São tristes exemplos como esses que nos fazem acreditar que a escola deve ser um espaço livre de discriminação, um espaço de acolhimento de todos e todas, e discutir gênero é parte disso.

A escola é um espaço não só para ensinar letras e números, mas também para promover cidadania; e, nesse sentido, deve ser espaço democrático e inclusivo, onde estudantes aprenderão que é possível o convívio com a diferença longe da violência e opressão. Uma escola que promova a igualdade de gênero não é uma escola que ensina crianças e adolescentes a serem gays ou que ensinam sexo de maneira inapropriada para as diferentes faixas etárias. É espaço pedagógico no qual se aprende que sexo é muito mais que natureza ou biologia, é também regime político da vida. Por isso acreditamos que a escola é lugar para o ensino do respeito mútuo. Isso não significa que a escola disputará com a casa ou a igreja – há valores morais que aprendemos e ensinamos em nossa vida privada. Mas é principalmente na escola que convivemos pela primeira vez com os diferentes de nós: as crianças verão que há diferentes cores, religiões e modos de se apresentar no mundo. Uma escola que promova igualdade de gênero será também espaço para todos e todas e, quem sabe em um futuro bonito, terá a potência de formar uma sociedade livre do ódio, violência ou perseguição.

Assim, não nos cansaremos de repetir: escola é instrumento poderoso para o exercício da cidadania e formação de meninas e meninos. Silenciar o gênero na escola é reproduzir as desigualdades, é ignorar a diversidade e a possibilidade de uma vida feliz com nossas próprias escolhas no campo sexual e reprodutivo. Falar e promover a igualdade de gênero na escola não é anular as diferenças ou promover ideologias, mas garantir que qualquer cidadão e cidadã brasileira viva e apresente-se da forma como quiser. Falar de gênero nas escolas é garantir que todos e todas sejam respeitados e respeitadas por suas escolhas e afetos.

Luciana Brito é psicóloga e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética.

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