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Polícia investiga três casos de estupro de meninas entre 11 e 15 anos

9 de junho, 2016

Polícia investiga três casos de estupro de meninas entre 11 e 15 anos, de Camila Costa, Luiz Calcagno, Bernardo Bittar.
Publicado originalmente por Correio Braziliense, em 9 de junho de 2016.

Fim de semana. Em Samambaia, duas amigas, uma de 11 e outra de 15 anos, saem para passear. No Park Way, uma jovem de 13 é deixada pela irmã em uma festa da Paróquia Imaculado Coração de Maria. Horas depois, a diversão se torna tragédia. As três acabam vítimas de estupros coletivos. Na primeira cidade, os suspeitos são amigos das famílias e usaram drogas para cometer a covardia. Na segunda, os supostos autores a incentivaram a se embebedar. Os casos mostraram que crimes, como o ocorrido no Rio de Janeiro (leia Memória), estão bem próximos dos brasilienses.

No início da noite de sexta-feira, a 32ª Delegacia de Polícia (Samambaia) registrou um dos casos. Os pais da criança de 11 anos e da adolescente de 15 seguiram até a unidade a fim de denunciar o desaparecimento das duas amigas. Às 23h, eles retornaram à DP com as meninas. Disseram que tinham sido vítimas de violência sexual, dopadas por remédio e induzidas a fazer o uso de álcool. Na delegacia, em depoimento, elas contaram ao delegado que encontram na rua dois homens, conhecidos das famílias, e eles as levaram para uma quitinete, onde a dupla acabou presa. “Houve o estupro. Prendemos os homens entre 0h e 1h de sábado e eles vão responder ainda por porte de armas e por oferecer droga a menores”, explicou o delegado-chefe da 32ª DP, Moisés Martins.

A polícia não dá detalhes para não expor as vítimas. “Ficou demonstrado também que as drogas foram usadas para que as meninas fossem abusadas, estupradas”, garante o delegado. Entre as drogas usadas pelos criminosos, uma é o Rohypnol, que produz o efeito popularmente conhecido como “Boa noite, cinderela” (leia Palavra de especialista). O caso das meninas de Samambaia tomou uma grande proporção depois do médico que atendeu a criança mais nova publicou o fato em uma rede social (veja Na internet).

Alexandre Paz Ferreira, médico pediatra plantonista de pronto-socorro, recebeu a menina de 11 anos por volta de 5h, em um hospital particular de Taguatinga. Ela estava acompanhada do pai. Segundo o especialista, a vítima pouco falava, parecia em estado de choque e apresentava efeitos da droga. “Eu constatei o estupro com o depoimento dela. Eu acredito nos meus pacientes”, afirma. A publicação de Alexandre teve milhares de compartilhamentos, mas foi removida no fim do dia. “Era um desabafo pessoal. Acho bom ser divulgado, as vítimas precisam ter voz. A discussão é sempre válida”, alega. O Conselho Regional de Medicina analisa a abertura de uma sindicância para apurar a conduta dele. “Estou com a consciência tranquila e não considero que houve quebra de sigilo da paciente”, defende.

Park Way
A 23,7km de Samambaia, menos de 24 horas depois, outra criança, outro estupro. A menina de 13 anos foi deixada pela irmã na porta da famosa festa da Paróquia Imaculada Coração de Maria, no Park Way. A Festa da Padroeira reuniu cerca de 2,5 mil pessoas. A jovem, acompanhada de outros amigos, fez uso de bebidas alcoólicas. A Delegacia da Criança e do Adolescente 1, que investiga o caso, preferiu não dar detalhes do caso, também para preservar a vítima. Não esclareceu, por exemplo, se a menina ingeriu a bebida dentro da festa da igreja. Também não se sabe se os abusos, tratados até então como estupro de vulnerável, foram cometidos na rua, na festa ou na casa de alguma pessoa.

De acordo com a ocorrência policial, a menina começou a beber na porta da paróquia, até perder os sentidos. Teria acordado no dia seguinte, na casa de uma amiga, que a informou do estupro. O crime teria sido cometido por três adolescentes, também colegas da vítima. Os meninos teriam passado a mão nas partes íntimas da criança, enquanto ela estava desacordada. A família da menina é de Taguatinga e está desolada. Uma tia, que pediu para não ser identificada, preferiu falar pouco para não expor ainda mais a sobrinha. “Queremos o máximo de sigilo possível. Estamos muito abalados. São meninas, adolescentes, e precisamos ver o que de fato aconteceu”, confessa a tia, informando que a vítima passou por perícia, ainda sem resultado divulgado.

O responsável pela paróquia, diácono Abraão Neto, se diz surpreso com a situação e garante que a ação não ocorreu dentro da igreja porque havia muita segurança. Segundo Abraão, há comércio de cerveja dentro da festa, mas a bebida só é entregue a maiores de idade. A venda fora do local não compete à paróquia.

Entre janeiro e maio deste ano, a Secretaria de Segurança Pública do DF registrou 254 casos de estupros no DF. A chefe da pasta, Márcia Alencar, afirma que, nos casos de crianças e adolescentes e no ambiente escolar, um dos pontos mais importantes é o trabalho com a família. Segundo Márcia, é preciso haver um conjunto de ações de forma comunitária. “É necessário alertar para determinadas vulnerabilidades. Por exemplo: saber que não se pode aceitar bebidas e substâncias estranhas. Tem que procurar andar em grupo, evitar locais sem iluminação e estar sempre próximos de cuidadores, seja em ambientes escolares ou em qualquer outro.”

Débora Diniz, professora de direito da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em violência contra a mulher, ressalta que casos de estupros estão cada vez mais evidentes e a escola tem papel fundamental na educação desses assuntos. “É assustador como esses projetos de homens estão cada vez mais presentes na sociedade. Precisamos discutir violência e gênero”, aponta. Para ela, as novas denúncias demonstram que não há justificativas para o crime. “No caso da garota do Rio de Janeiro, sempre a questionavam e perguntavam onde ela estava e quem era. Em Brasília, a adolescente estava em uma festa da igreja, em um ambiente dito familiar. Não tem lugar e não tem quem é a vítima”, adverte.

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