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Anis | Os desajustes dos preços no mercado não tornam as mulheres economistas, mas sobreviventes

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Os desajustes dos preços no mercado não tornam as mulheres economistas, mas sobreviventes

13 de março, 2017

É para elas que o centavo adicionado à tarifa de ônibus é sentido no estômago no jantar: se come menos pão ou feijão.

por Debora Diniz

Publicado originalmente no The Huffington Post

É certo que podem me dizer “já passou” – 8 de março se foi e cá estou novamente lembrando as indelicadezas do Presidente Temer? Pois é, não passou, ainda me incomoda o desrespeito à multidão, ao mulherio todo deste País.

Se há mães lendo livros de ninar para as crianças dormirem, dificilmente elas são as mães trabalhadoras

Para as mulheres pobres, o preço da feira não as torna economistas da casa. Só as deixa ainda mais sobreviventes de um regime perverso de desigualdade. É para elas que o centavo adicionado à tarifa de ônibus é sentido no estômago no jantar: se come menos pão ou feijão. É ainda para elas que essa conversa fiada de que filhos bem educados são o bom exemplo de boas mães fere o fígado: se há filhos fora do prumo, por que o presidente Temer não lamentou sobre a ausência dos pais ou de creches públicas para que elas possam ir trabalhar de madrugada à tarde da noite?

Dia 8 de março não é para comemorar o que carregamos escondido entre os corpos, mas para relembrar a agenda de direitos violados

Para que mulheres como Marcela Temer sejam boas mães e economistas do supermercado, é preciso que outras mulheres cuidem de suas crianças, engomem suas roupas, ou tirem o pó dos móveis enquanto elas planejam os trançados do cabelo ou as cores do vestido para anunciar projetos de crianças felizes que nunca saíram do papel. Se há mães lendo livros de ninar para as crianças dormirem, dificilmente elas são as mães trabalhadoras, e não é porque desdenhem a leitura como cuidado de crianças, é porque nem elas puderam viver isso como ócio ou cuidado da infância.

Por que Temer esqueceu de falar sobre como a vida seria melhor se nós não morrêssemos pelas leis ou mãos dos homens?

Não vou só lamentar o já-dito sobre as palavras de outro século do Presidente para saudar a luta das mulheres. Dia 8 de março não é para comemorar o que carregamos escondido entre os corpos, mas para relembrar a agenda de direitos violados – bem perto de nós na história, houve um tempo em que não votávamos, não saíamos à rua sem homens vigilantes, em que a virgindade das mulheres era um tributo. Presidente Temer é homem maduro, viveu algum desses tempos, se não me engano.

Neste 8 de março, temos outras lutas e todas muito urgentes: não morrer na casa, não morrer por aborto, não morrer de parto. Todas elas mortes evitáveis e que só atormentam as mulheres. Por que Presidente Temer esqueceu de falar sobre como a vida seria melhor se nós não morrêssemos pelas leis ou mãos dos homens?

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