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Publicado originalmente por Justificando, em 14 de junho de 2016.
Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, de 10 anos, morreu após ser baleado na cabeça por policiais militares em um bairro rico de São Paulo. Junto com outra criança, de 11 anos, ele foi perseguido pela polícia após furtar um carro. Ítalo dirigiu 300 metros, bateu em outros veículos, foi cercado por policiais em carros e motos, houve tiros, e o menino morreu dentro do carro. A PM de São Paulo é matadora. Lidera índices de mortes de civis em confronto com policiais. Ítalo entrou para a estatística da letalidade violenta porque, enquanto fugia dirigindo, teria atirado várias vezes contra a polícia que o cercava.
Uma criança de 10 anos não devia ser morta pela polícia. Mas, na mesma noite em que ele morreu, a polícia gravou um interrogatório com o colega que estava com Ítalo, e o menino respondeu às perguntas que lhe foram feitas confirmando a tese de legítima defesa dos policiais, já que tiros teriam sido disparados por Ítalo. O governador Geraldo Alckmin chancelou a gravação ilegal dizendo que o vídeo parecia espontâneo. O advogado Ariel Castro, do Conselho Estadual de Direitos Humanos, discordou. Em novo depoimento à polícia, dessa vez acompanhado pela mãe, o menino de 11 anos disse que Ítalo não atirou, nem arma tinha. A perícia afirmou não haver indícios de disparos feitos de dentro do carro.
Uma criança de 10 anos não devia ser morta pela polícia. Mas uma moradora do Morumbi disse que a PM “interrompeu a carreira de um bandido”, enquanto se reunia com vizinhos em manifestação pública de apoio à polícia. Outro manifestante explicou que “com dez, doze ou dezoito anos, naquele momento ele era um marginal, um criminoso”. Do outro lado da rua, jovens negros da periferia se organizavam em um contra-protesto, em luto por Ítalo e outros meninos mortos em chacinas na cidade. Na grande faixa que seguravam, lia-se: “racistas assassinos, Ítalo vive em nós”.
O que sabemos sobre Ítalo?
Uma criança de 10 anos não devia ser morta pela polícia. O que sabemos sobre Ítalo? Que tinha outras ocorrências por roubo, que pai e mãe teriam estado presos, que passava muito tempo na rua, dizem as notícias. Quanto tempo passava na escola? Em que ano estava, ou deveria estar? Sabia ler? Por que ia ao aeroporto de vez em quando engraxar sapatos? Quantas refeições fazia por dia, e onde dormia? As perguntas que consideramos certas e importantes sobre Ítalo pavimentam o caminho de histórias de outros meninos como ele – negros, pobres e abandonados pelo Estado que sabe mais sobre como morreram do que sobre como viveram.
Sinara Gumieri é advogada e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética. Este artigo é parte do falatório Vozes da Igualdade, que todas as semanas assume um tema difícil para vídeos e conversas. Para saber mais sobre o tema deste artigo, siga https://www.facebook.com/AnisBioetica.