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O livro da haitiana Edwidge Danticat e a crise migratória que também afeta o Brasil

13 de março, 2017

Edwindge é mulher negra e imigrante, nasceu no Haiti e viveu no país até o início de sua adolescência. Ela é autora do clássico ‘Adeus, Haiti’

por Luciana Brito

Publicado originalmente no The Huffington Post

Adeus, Haiti foi lançado no Brasil em 2010, nos Estados Unidos em 2007. Para aquelas que gostam de novidades literárias este não é livro de publicação recente, mas para quem nunca leu, vale ler. Sua história fala também sobre crises atuais. Edwidge Danticat não escreveu ficção, conta em seu livro a experiência de exílio em terras estrangeiras vivida por ela e por sua família.

Edwindge é mulher negra e imigrante, nasceu no Haiti e viveu no país até o início de sua adolescência. Seus pais foram tentar a vida nos Estados Unidos – mas tiveram que deixar Edwindge e o irmão no país assolado pela guerra civil até conseguirem arrumar a vida para buscá-los. Durante a espera, as crianças viveram com os tios. Notícias dos pais vivendo em terras distantes vinham por cartas que acompanharam praticamente toda a infância de Ewindge e seu irmão. A espera durou quase uma década quando o consulado Americano autorizou a saída dos dois irmãos do Haiti para se juntarem aos pais nos Estados Unidos. O tratamento obrigatório de uma tuberculose adiou a viagem por mais seis meses. Mas depois de curados deixaram o Haiti. Edwinge tinha 12 anos.

Se infelizmente essa crise parece longe do fim, as memórias de Edwindge Danticat, escritas em Adeus, Haiti podem servir para nos aproximarmos da dor daquelas que parecem tão distantes.

Mesmo vivendo em país distante, a família ainda mantinha-se ligada ao Haiti. Eram refugiados, mas amavam a terra natal que tiveram que deixar para buscarem paz. Edwinge conta a história de luta e sobrevivência de sua família, mas também é um relato sobre exílio e perdas. O tio de Edwinge que sempre se recusou a sair do Haiti foge já idoso para tentar asilo nos Estados Unidos ao lado da família que lá já vivia por décadas. Ele fugiu para salvar a vida após ter a casa saqueada e ser ameaçado de morte. Em busca de asilo foi detido numa prisão da imigração Americana, pois foi considerado imigrante ilegal – sua história de terror parecia pouco convincente às autoridades que buscavam verdades que merecessem o asilo humanitário. O senhor de 81 anos que deixou o Haiti para viver, morreu na prisão dos Estados Unidos. Edwinge e sua família conseguiram liberação do corpo morto do tio para o enterro em solo americano.

Essa medida é um anúncio de uma crise imigratória crescente que provavelmente afetará os quatro cantos do mundo.

Adeus, Haiti também fala de nós, brasileiras. Desde 2010, após um terremoto que assolou a região de Porto Príncipe, o Brasil se tornou destino para muitos imigrantes haitianos. Mas a crise econômica brasileira somada à baixa prioridade dada pelas autoridades em fazer de nosso país um destino humanitário resultou em fechamentos dos abrigos que existiam no Acre. Sem abrigos, milhares de homens e mulheres imigrantes, indocumentados e sem emprego tentam a vida sem ter para onde ir. Imigrantes peruanos e bolivianos já foram encontrados vivendo em situações análogas ao trabalho escravo no centro de São Paulo. Em janeiro o presidente dos Estados Unidos recém-eleito, Donald Trump, anunciou a suspensão de entrada nos EUA de cidadãos de sete países. Essa medida é um anúncio de uma crise imigratória crescente que provavelmente afetará os quatro cantos do mundo. Se infelizmente essa crise parece longe do fim, as memórias de Edwindge Danticat, escritas em Adeus, Haiti podem servir para nos aproximarmos da dor daquelas que parecem tão distantes. Mas que estão muito perto de nós.

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