Por Nara Menezes
Publicado originalmente na Revista AzMina
Não se espera que um homem branco heterossexual possa falar em nome de todos os outros homens brancos heterossexuais, certo? Por que então deveríamos esperar que uma mulher como Damares Alves possa representar todas as outras mulheres, ou que um homem como Sergio Camargo possa representar todas as pessoas negras? Representatividade é essa palavra que vem sendo utilizada para falar da importância de pessoas com marcadores de identidade diversos ocupando espaços de poder: é o que está em jogo quando questionamos que apenas 15% das pessoas eleitas no Congresso Nacional são mulheres ou que, na iniciativa privada, apenas 4,7% dos cargos de liderança são ocupados por pessoas negras.
Não se espera que um homem branco heterossexual possa falar em nome de todos os outros homens brancos heterossexuais, certo? Por que então deveríamos esperar que uma mulher como Damares Alves possa representar todas as outras mulheres, ou que um homem como Sergio Camargo possa representar todas as pessoas negras? Representatividade é essa palavra que vem sendo utilizada para falar da importância de pessoas com marcadores de identidade diversos ocupando espaços de poder: é o que está em jogo quando questionamos que apenas 15% das pessoas eleitas no Congresso Nacional são mulheres ou que, na iniciativa privada, apenas 4,7% dos cargos de liderança são ocupados por pessoas negras.
Mas pensar em representatividade como um fim em si mesmo leva a um esvaziamento da importância de que espaços de poder sejam ocupados por grupos diversos. O que movimentos sociais apontam há bastante tempo é a necessidade de pensar em representantes que, além de compartilhar raça, gênero ou sexualidade, estejam verdadeiramente comprometidos em defender a dignidade humana de grupos que têm menos acesso a direitos. O que se busca não é uma voz unânime – isso seria impossível -, mas pessoas capacitadas para formular estratégias políticas de enfrentamento às desigualdades.
Quem se recusa a olhar para os dados que apontam que 75,5% das vítimas de homicídio no Brasil são negras, como revela o Atlas da Violência de 2019, e afirma que não vivemos um racismo real no país não está apto a representar uma Fundação que demonstra em seu nome o compromisso com a defesa do povo negro brasileiro. Quem convoca uma coletiva de imprensa para que jornalistas assistam ao silêncio demonstra apenas a falta de respostas oferecidas pelo Governo às quase 50.000 denúncias de violência contra a mulher registradas pelo Disque 180 no primeiro semestre deste ano.
O racismo real brasileiro se manifesta nos 80 tiros contra o carro de Evaldo Rosa e de sua família a caminho de um chá de bebê; está escancarado nos 111 tiros contra cinco jovens que iam comemorar o primeiro emprego de um deles. Se o Atlas da Violência de 2019 identificou que 66% das mulheres assassinadas no país são negras, é a combinação entre racismo e machismo que se faz presente.
Designar pessoas como Sergio Camargo e Damares Alves para ocupar cargos tão importantes quanto a Fundação Palmares e o Ministério das Mulheres e dos Direitos Humanos é mais uma estratégia do governo bolsonarista para retirar direitos e esvaziar as políticas públicas voltadas para a defesa da população brasileira.