Sandra Queiroz era uma mulher anônima, trabalhadora doméstica em casa de bairro chique de São Paulo. Em uma noite de domingo, transformou-se em “safada” que abandonou a filha recém-nascida em uma sacola ao pé de uma árvore. Foi vigiada por câmera que persegue delinquentes — lá estava ela, rondando a rua, deixando a sacola, espiando quem se aproximaria, descobriria o bebê e o acolheria. Nunca falamos com Sandra, mas sua história nos diz muito sobre abandono.
Sandra é mãe solteira de três. Tenta ajudar a sustentar o mais velho, de 17 anos, mesmo de muito longe. Da menina de 3 anos, cuida nos intervalos entre limpar chão e lavar louça da casa alheia. Para a recém-nascida, Sandra desejou algo que ela mesma não poderia oferecer. Deixou-a, agasalhada e alimentada, depois de uma gravidez que viveu só e em segredo, por medo de perder o trabalho, e de um parto desamparado em um banheiro. Hoje, Sandra aguarda sentença do que pode ser considerado crime, enquanto a bebê espera que lhe designem casa. Sandra foi chamada de monstro, mas é mulher desfeita em desespero, cujo sofrimento decidimos não ignorar.