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Publicado originalmente na Marie Claire
Foram dois minutos e vinte segundos de assédio sexual. Como todo assédio, foi vulgar e ofensivo. Não venham dizer que Sílvio Santos é homem de outra geração ou que deveria estar em um asilo – a voz bamba não era de senilidade, mas de um macho em seu poder e que, sem receios, descreveu seus planos de um chope seguido de um conforto após admirar a beleza de Claudia Leitte. Não me interessa saber que nenhum Viagra solucionaria o que o tempo já levou em Sílvio Santos, pois não é só dele que a violência nos atinge, mas de todos os homens que se acham no direito de assediar uma mulher porque a “roupa seria inadequada” ou “porque é bonita”.
Cláudia Leitte espantou-se com a ousadia. É mulher poderosa, acostumada a um corpo que acompanha sua arte. Reagiu de maneira complexa ao assédio exibido em cadeia nacional: convocou o marido como alguém a ficar aborrecido com a indiscrição de Sílvio Santos. A montagem da cena foi ainda mais perversa, pois provocou o curto circuito com Iris Abravanel, a esposa de Sílvio Santos, a quem coube um balanço de cabeça. Talvez seja uma resignação a uma história que desconhecemos suas raízes, quem sabe seja ela outra vítima do autoritarismo masculino. Claudia tentou mais: ameaçou “vazar” e não cantar, pois Sílvio Santos insistia em retornar aos detalhes de sua roupa. Cantou, mas depois posicionou-se publicamente, “me senti constrangida”.
Foi mais do que constrangimento – a cena é de violência. Não venham aqui ruminar essa imbecilidade de “mimimi” feminista. Pensem em sua mãe, filha, irmã ou esposa ouvindo este diálogo impróprio sobre excitação por um corpo alheio. Não era excitação de alegria por tê-la no palco, era excitação sexual, ele fez questão de esclarecer. Claudia se analisou em público ao dizer que viveu o que as mulheres vivem todos os dias. Vale estranhar que a pergunta “até que horas podemos estar nas ruas?” veio de uma mulher que viaja em seu jato particular, que transita com motorista, que vive em um bunker protegida pela riqueza. Ainda assim, nas protegidas interações sociais com os machos foi vítima de assédio. É algo estranho descrevê-la aqui como uma “vítima comum”, mas toda vítima é isso – uma mulher comum espoliada pelo macho.
Como outras mulheres, Claudia se manteve no palco e fez seu trabalho. É fácil agora imaginá-la diferente – indo embora, reagindo ainda mais ferozmente, acusando-o de machismo e violência. Mas ela mesma se compreende, e novamente explica todas nós, “aprendemos a nos esquivar”. Essa sobrevivência cotidiana é o disciplinamento do gênero que as mulheres foram submetidas desde a infância. Nossos corpos são matéria à disposição do assédio e usurpação pelo olhar, voz ou força dos homens. Por isso, Claudia falou em medo e crueldade. Não há nada de política esquerdista nas palavras dela, é apenas uma mulher reclamando o direito de “ser livre”.