Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the updraftplus domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u180249597/domains/anis.org.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114

Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the polylang domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u180249597/domains/anis.org.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114
Anis | Darcy Ribeiro resiste e persiste

Na mídia

artigo
imprensa
notícia

Darcy Ribeiro resiste e persiste

5 de novembro, 2018

por Debora Diniz

Publicado originalmente no Correio Braziliense

Fui estudante e, hoje, sou professora da Universidade de Brasília. Descrevo-me como experimento de Darcy Ribeiro para o conhecimento sem fronteiras — cheguei por um curso, passei por outros, me formei em antropologia, hoje sou professora do direito, e penso a saúde pública. A universidade é isso: não há perguntas prédeterminadas, não há respostas já conhecidas e jamais haverá medo para mover a dúvida e o conhecimento. Assim, meu pedido aos que festejam a vitória das eleições com mensagens de ameaça ou terror: esqueçam as universidades. Deixem a Universidade de Brasília em paz.

Ali não é lugar para combate, só para aprendizado e acolhimento. Se insistirem na ofensiva violenta, encontrarão professores, funcionários e estudantes dispostos a ensinar o que ainda precisam aprender: paz, tolerância e democracia. Não ameacem gravar aulas e denunciar a quem quer que seja que se apresente como o fiscal do conhecimento proibido ou permitido. Será gasto inútil do dinheiro público, pois falaremos mais e melhor. E com mais sagacidade, coisa que o ressentimento impede alguns de conhecer. Começaremos a falar de bolo de cenoura e, sem que percebam, falaremos da liberdade e da resistência. Por isso, não nos transformem em heróis. Deixem-nos ser só professores.

Podem levar as cadeiras, os quadros, os recursos de financiamento à pesquisa. Ensinaremos mais, seremos ainda mais professores, como um dia sonhou Paulo Freire. Quer maior estrago para as futuras gerações que nos dedicarmos a falar ainda mais, escrever como quem respira, sair das universidades e ir às comunidades? Não há profissão de maior provocação neste momento do país que a de professor. Reconheçam que já éramos pensantes antes de chegarem ao poder, só seremos ainda mais. Se acreditam mesmo na democracia que lhes permitiu chegar à Presidência da República, respeitem as regras do jogo. Na universidade não entram tanques ou gente armada — só se for para aprender. Pediria que sempre guardassem a arma quando se apresentarem como estudantes em uma sala de aula.

Além de professora, sou orientadora de estudantes. Essa é uma das responsabilidades mais delicadas de minha carreira — além de ensinar, oriento os caminhos do pensamento para um jovem escritor. Já orientei policiais, bombeiros, delegados, agentes de segurança prisional, e com todos eles encontrei o mesmo espírito de proteção aos direitos humanos que partilho. Foram estudantes que me ensinaram sobre a grandeza de ser um profissional da segurança pública e pensar a dignidade da vida humana. De nenhum deles jamais ouvi destrato ao meu pensamento, como certamente eles não ouviram de mim às suas crenças sobre o certo. O que não estranhamos entre nós é sobre onde o justo deve estar na vida política.

Por isso, não acreditem em quem esbraveja que as universidades são os inimigos depois de vencidas as eleições. A lógica binária de uma corrida política não se aplica a quem pensa, duvida, estranha e pede argumentos antes de ouvir teses prontas. Em sala de aula pensamos sobre tudo, mas, para qualquer coisa a ser dita, pedimos forma específica de pensar, que é o argumento. E, para argumentar, há regras da comunidade acadêmica: a mais importante delas é o respeito ao que se descreve como conhecimento; a segunda é o dever de conhecer antes de se pronunciar. Não é, portanto, fácil marchar pelas universidades como se disparam mensagens de fofoca por WhatsApp — ali não estão crentes à espera de burburinho. Somos pensadores treinados a duvidar e a argumentar.

Na falta de argumento, não adianta nos ameaçar com bravatas de perseguição ou matança. Há meses, escuto bravateiros covardes que me perseguem como se isso fosse me silenciar. Aqui estou e estive por todas as partes nos últimos meses: se a mim, um experimento de Darcy Ribeiro, alguém sem músculos ou armas, só com livros e voz, os bravateiros não foram capazes de silenciar, jamais serão os mais de 20 mil alunos da Universidade de Brasília. Por isso, meu pedido: parem de desordenar antes de governar. Festejem que ganharam as eleições, mas reconheçam que a universidade sempre será livre e não se toma de assalto o pensamento.

Compartilhe nas suas redes!!