Em um minidocumentário recente, a Agência Senado contou a história do menino Bernardino, que engraxava sapatos no Rio de Janeiro nos anos 1920. Em 1926, Bernardino jogou tinta na calça de um cliente que se recusou a pagar pelas botinas engraxadas. Por causa da ousadia, o menino de 12 anos, negro e pobre, foi mandado para a cadeia por um mês. Lá, foi violentado e espancado por vinte homens. Médicos que socorreram Bernardino e jornalistas que contaram o caso se revoltaram. O Brasil se espantou e resolveu aprender com a tragédia. Em 1927, foi criado o Código de Menores, que proibiu a prisão de crianças e adolescentes como se fossem adultos e determinou 18 anos como a maioridade penal.
Em 2015, quase cem anos depois, o Congresso Nacional quer voltar a colocar Bernardinos na prisão, como se fossem adultos. Quer tirá-los da escola ainda mais cedo e mandá-los para presídios superlotados, onde só há facções criminosas como professores. Quer afastá-los da família, dos amigos, de quem se importa com eles. Quer repetir um passado trágico que insiste em esquecer. Cadê nosso espanto?