updraftplus
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u180249597/domains/anis.org.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114polylang
domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init
action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/u180249597/domains/anis.org.br/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114por Juliana Gonçalves
Publicado originalmente em The Intercept
O DEBATE EM torno do aborto volta a cena mais uma vez. Com votação prevista para esta quarta-feira, dia 7, no Supremo Tribunal Federal, a Ação Direta Inconstitucional 5581, questiona as ações do governo em relação à epidemia de zika vírus. Apesar dos vários pontos defendidos pela ADI, o debate acabou reduzido a um único: a descriminalização do aborto para gestantes infectadas, que podem vir a gerar crianças com microcefalia.
“Resumir a ação apenas ao aborto me parece mais uma vez encobrir o que foram os efeitos da epidemia no Brasil. Essa é uma epidemia causada por uma negligência do estado brasileiro. Não é apenas aborto”, defende Debora Diniz, antropóloga do Instituto de Bioética Anis. A instituição apoia o pedido da Associação Nacional dos Defensores Públicos, que protocolou a ação no STF.
O aborto legal para gestantes com zika e em sofrimento mental é apenas um dos pontos da ação, que defende desde o acesso a informações obtidas em novas pesquisas até a distribuição de repelente para grávidas. O planejamento familiar com a inclusão de métodos de longa duração para evitar a gravidez, como o DIU, a garantia de transporte e o benefício de assistência social de transferência de renda de um salário mínimo às famílias dos bebês com microcefalia também entraram no pedido.
“Nós temos uma epidemia de zika em que o Nordeste brasileiro é o epicentro do mundo. É preciso explicar às pessoas que existe um risco de transmissão sexual, por exemplo, e como elas podem se proteger. Ou ainda, uma mulher que queira ficar grávida em uma terra com zika, precisa ter acesso ao repelente. Desde o início da epidemia, o estado brasileiro não incorporou o uso repelente no pré-natal”, explica Diniz.
Políticas brasileiras tratam o aborto sob uma perspectiva religiosa e moral.
O texto da ADI alega que a descriminalização do aborto é uma medida de proteção da saúde, inclusive mental, e do direito à autonomia reprodutiva da mulher. O argumento é o mesmo dos relatores da ONU que defendem que negar um procedimento legal de aborto para essas mulheres é algo equivalente a tortura. O parecer foi anexado ao documento. O grupo de representantes da ONU se apresenta como o terceiro interessado no julgamento do STF.
“Essa é uma questão de saúde pública de mulheres e crianças. Nós estamos falando de milhares de crianças afetadas pelo Zika. Reduzirmos para o fanatismo da discussão do aborto é esquecer que há mulheres na pobreza, há mulheres no sofrimento e há mulheres sem informação. E quem são essas mulheres? Mulheres nordestinas e pobres. Mulheres que tradicionalmente o Brasil não quis reconhecer”, explica Diniz.
O julgamento acontece uma semana após a decisão do STF de suspender a prisão de funcionários de uma clínica clandestina de Duque de Caxias (RJ), por não considerar crime a interrupção da gestação no primeiro trimestre. Em sua decisão, o ministro Luís Roberto Barroso diz que “criminalizar a mulher que deseja abortar gera custos sociais e para o sistema de saúde, que decorrem de necessidade de a mulher se submeter a procedimentos inseguros, com aumento da morbidade e da letalidade”.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Aborto de 2016 (PNA), uma em cada cinco mulheres aos 40 anos já realizou pelo menos um aborto. Em 2015, foram, aproximadamente, 417 mil mulheres. O principal método de aborto entre as brasileiras é o medicamentoso, principalmente pelo uso do misoprostol, conhecido como Citotec, e metade das mulheres precisou ficar internada para finalizar o procedimento.
Em 2015, 181 mil mulheres passaram pelo SUS para o procedimento de curetagem. Outros 10.623 mil atendimentos foram feitos para a realização do AMIU – esvaziamento do útero por aspiração manual intrauterina. A soma dos dois procedimentos é 100 vezes maior que o número de abortos legais realizados no Brasil, permitidos em casos de gestação decorrente de estupro, diagnóstico de anencefalia e risco de vida a mulher. Os atendimentos pós-aborto custaram R$ 40,4 milhões no último ano.
“A mulher que faz aborto no Brasil é uma mulher comum. É uma mulher jovem, ela tem um companheiro e já tem filhos. Ela está na sua família, sua vizinhança ou na sua casa. Ao pensarmos nessa mulher comum, talvez os nossos afetos acalmem esse fanatismo, que denuncia a mulher por crime, e permitam cuidarmos dessas mulheres”, defende Diniz.
De acordo com a PNA, as políticas brasileiras, inclusive as de saúde, tratam o aborto sob uma perspectiva religiosa e moral. Discurso que se repete na sociedade como um todo, refletido nos debates no tribunal das redes sociais. Independentemente dessas opiniões, abortos continuam acontecendo e matando mulheres no Brasil.
*Atualização:
O julgamento da ação foi adiado e acontecerá em outra data ainda não definida.