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Zika e gênero

25 de fevereiro, 2016

A epidemia de vírus zika associada a más-formações e complicações neurológicas fetais afeta desproporcionalmente as mulheres. Já dissemos por aqui: as mulheres são tratadas como as principais responsáveis pelo planejamento familiar, ou seja, pela decisão de quando, como e quantos filhos ter. Esse tratamento, em nossa sociedade, não significa que elas tenham a acesso a educação sexual e serviços de saúde para tomar decisões reprodutivas livres e informadas, mas sim que são culpabilizadas por fazê-lo: seja pela ameaça de prisão no aborto, seja pelo desamparo na vivência da maternidade.

O desamparo das mães na epidemia tem muitas faces. Uma delas é a ausência de políticas sociais fortes, que lhes garantam informação sobre seus direitos, cuidados de saúde para seus bebês – como a estimulação precoce – e acesso a programas de assistência social que contribuam com recursos para necessidades diárias de alimentação, educação, transporte e lazer das crianças.

Outra face do desamparo, talvez mais silenciosa, são os homens que abandonam: maridos e pais que, diante dos desafios do trabalho de cuidado familiar, escolhem ir embora. A desigualdade do gênero não é invenção da epidemia, mas suas marcas sociais e afetivas sobre as mulheres são agravadas por ela. Por isso é que afirmamos: não é possível enfrentar a epidemia e cuidar da saúde pública sem garantir direitos às mulheres. Homens abandonadores são tristes evidências de uma sociedade desigual, e um Estado abandonador é inconstitucional.

 

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