O anúncio da substituição da Coordenação Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde deixou movimentos da luta antimanicomial em rebuliço. O antigo coordenador, Roberto Tykanori, ajudou a denunciar maus-tratos que levaram ao fechamento de um manicômio dirigido por anos pelo novo nomeado, Valencius Duarte W. Filho. As diferenças de currículo são indícios de retrocesso na política de atenção a pessoas em sofrimento mental: de uma rede territorial e comunitária de cuidado em liberdade, construída pela reforma psiquiátrica, para o modelo anterior de isolamento e tratamentos degradantes em máquinas de abandono disfarçadas de hospitais.
Há quem diga que o novo coordenador mudou, que aprendeu e hoje é apoiador da reforma psiquiátrica, consolidada pela Lei de Saúde Mental de 2001. Reunidos em protestos no Rio de Janeiro, em Brasília, em São Paulo, em Recife, em Belo Horizonte e até em uma ocupação no Ministério da Saúde, usuários, familiares e trabalhadores de saúde mental respondem: se houve mudança, não é suficiente. Não admitem o flerte com o passado recente de direitos violados, pacientes nus, algemados, desaparecidos da vida. Ocupam ruas e salas para evitar que manicômios voltem a se encher. Nós nos somamos ao grito por uma sociedade com práticas de saúde baseadas na liberdade, no diálogo com movimentos sociais e sem manicômios.