Um grupo de meninas de um colégio tradicional de Porto Alegre criou um abaixo-assinado para exigir que a direção as deixasse usar shorts para ir à aula. No manifesto, escrito por uma estudante de 15 anos, dizem “exigimos que a instituição deixe no passado o machismo, a objetificação e sexualização dos corpos das alunas”. O movimento é semelhante ao que aconteceu ano passado em uma escola de São Paulo, que reverteu a proibição de que alunas usassem roupas acima do joelho. Em outras escolas, surgem grupos feministas que citam, como fonte de inspiração em páginas do Facebook e vídeos no YouTube, filósofas como Judith Butler e Simone de Beauvoir. A pauta das alunas parece simples, mas suas demandas não são apenas caprichos de jovens sobre escolhas do tamanho dos shorts ou estilos da moda. As meninas de Porto Alegre dizem: “nós somos adolescentes de 13-17 anos de idade. Se você está sexualizando o nosso corpo, você é o problema”.
Enquanto gênero continua sendo tema maldito nos currículos escolares, as estudantes se organizam para exigir que a escola repense práticas e regras, e não têm medo de nomear o que as move: o feminismo. O uso dos shorts é o mote que moveu o pedido das adolescentes, mas a pauta é muito mais ampla: a percepção das meninas de que a desigualdade do gênero tem efeitos também no espaço da escola. A luta de adolescentes feministas nas escolas não está longe dos debates de instituições oficiais do Estado: parlamentares conservadores têm tentado retirar a expressão “perspectiva de gênero” das atribuições do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos na medida provisória da reforma administrativa (MP 696). O tabu do gênero, que é só uma estratégia cansada para manter a desigualdade, está chegando longe demais. Mas também vem chegando novas gerações de meninas feministas, que brigam desde cedo para que a igualdade seja parte do beabá escolar.