Quando o tema da redação do Enem 2015, a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira, se tornou conhecido, houve quem comemorasse a relevância do assunto para a cidadania — como nós, do Vozes da Igualdade. Mas houve também quem reclamasse de uma “doutrinação feminista” ou quem, por ingenuidade ou má-fé, questionasse o tema afirmando que o número de homens afetados por violências diversas seria tão maior. Essa é uma verdade míope, já que a questão é o contexto que une tantos casos de violência contra mulheres: sofrê-la dentro de casa, por homens de suas relações de afeto, muitas vezes em silêncio.
Corrigidas as provas, o Ministério da Educação divulgou que 55 mulheres contaram, em suas redações, agressões que testemunharam ou sofreram. Houve dúvida sobre como encarar os textos: seriam redações dissertativas para um exame nacional ou pedidos de socorro? A resposta do ministério foi orientar as mulheres sobre mecanismos públicos de denúncia. Para nós, as redações dão um recado fundamental. Quando a violência aparece em primeira pessoa em uma prova nacional, é porque gênero já está na vida escolar, mas na forma de silêncio, de falta de espaços de aprendizado sobre desigualdades entre homens e mulheres. Precisamos falar de gênero na escola da forma certa: para que estudantes aprendam a prevenir e combater a violência contra mulheres, e para que o Estado aprenda a ouvi-las.